A terra não-prometida do Nova Canaã
Uma nova reintegração não era esperada pela comunidade
Por Júlia Paes de Arruda
A comunidade Nova Canaã, ligada ao MSLT (Movimento Social de Luta dos Trabalhadores), está em processo de reintegração, isto é, deslocar-se para outro local determinado pela prefeitura. A comunidade, localizada próximo ao IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da Unesp, já havia conquistado CEP próprio antes de saberem da reintegração.
No início de 2018, a comunidade juntamente com a prefeitura assinaram o TAC (Termo de Ajuste e Conduta), o qual garantia a moradia provisória do Nova Canaã por 3 anos. O terreno atual possui 266 mil m² que abrigam 713 famílias. Os requisitos para a permanência no local são: ter renda per capita de até meio salário mínimo, não possuir moradia própria e não possuir outra opção habitacional. Incluíam-se também pessoas com companheiro(a), filhos, idosos, pessoas com capacidade reduzida e portadores de doenças crônicas com comprovação de um atestado médico.
Além disso, ficou decidido que a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) de Bauru ligaria a luz a partir de uma autorização emitida pela prefeitura, a água seria levada por caminhões-pipa — até que o DAE (Departamento de Água e Esgoto) fizesse ligação com o reservatório do assentamento — e dois pontos de parada seriam designados próximos dos moradores junto com uma linha de ônibus escolar para atender as crianças. Todos os serviços seriam pagos pelas famílias.
O terreno pertence a João Parreira de Miranda, dono da João Parreira Negócios Imobiliários. Para abrigar as pessoas do Nova Canaã, a prefeitura se comprometeu a pagar uma espécie de aluguel. Entretanto, Parreira afirmou que o acordo não foi assinado por ele e ameaçou a prefeitura por permitir a ocupação de pessoas num terreno particular não loteado. Por isso, depois de muitas reuniões, o acordo foi revogado e as pessoas tiveram que deixar o local.
Segundo Jota Macedo, dirigente estadual do movimento, muitas famílias não têm para onde ir: “Estamos de mãos atadas, sem saber o que fazer”. Algumas passaram por uma espécie de seleção para poderem se estabelecer em outro lugar. “Em reunião, ele (o prefeito de Bauru, Clodoaldo Gazzetta) fala em terrenos para essas famílias que passaram e as mesmas vão pagar uma taxa mensal. Valor ainda não publicado”, afirma. Jota ainda fala que, na verdade, isso é uma forma de enfraquecer o movimento já que a comunidade será dividida. Os acampados selecionados mudaram para o Parque Primavera, atrás do Cemitério Cristo Rei. O terreno era um antigo aterro de materiais de construção, o que o impróprio para estruturar uma casa. O restante, foi direcionado para área provisória próxima a Unip.
O Movimento Social da Luta dos Trabalhadores, diferente de outros movimentos de ocupação, luta por um espaço na zona urbana da cidade ainda que através de pagamento. Apesar da reintegração, muitas pessoas farão resistência. “Vamos lutar pelas famílias que realmente precisam e não tem pra onde ir.”, ressalta Jota.
Nota: essa reportagem foi usada para a criação do Extra!, envolvendo as matérias de Jornalismo Impresso I e Planejamento Gráfico I (junho/2019) ministrada pelas professoras Gleice Bernardini e Vivianne Lindsay Cardoso, respectivamente.