A trajetória de mais um corrupto
Michel Temer se tornou réu de um dos maiores crimes de corrupção do Brasil
Por Júlia Paes de Arruda
N o último dia 21 de março, o juiz federal Marcelo Bretas ordenou um pedido de prisão ao ex-presidente Michel Temer, ao ex-ministro de Minas e Energia e ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco e mais 12 pessoas. Os envolvidos na Operação Descontaminação, desdobramento da Operação Lava-Jato, foram indiciados por crimes de corrupção passiva — quando alguém culpado de um crime oferece dinheiro a uma pessoa em troca de seu silêncio, peculato, lavagem de dinheiro e o pagamento de 1,1 milhão de reais em propina a empregados da Eletronuclear , o que chamamos de corrupção ativa.
Temer ficou quatro dias preso em uma cela na sede da Polícia Federal, no Rio de Janeiro. No dia 25 de março, ele foi solto devido a um pedido de habeas corpus que foi deferido por Antonio Ivan Athié, desembargador do Tribunal Regional da 2ª Região (TRF-2). Assim como Temer, Moreira Franco e o coronel João Baptista Lima Filho também foram soltos, além de mais cinco investigados pela Lava Jato do Rio.
Para Maximiliano Martin Vicente, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (FAAC/UNESP), há indícios bens fortes de que Michel Temer está envolvido com atividades ilegais. A principal prova é a delação de José Antunes Sobrinho. O ex-presidente da empreiteira Eletronuclear — envolvida na construção da usina termonuclear Angra 3 — confirmou o esquema de corrupção envolvendo os acusados. O professor ainda ressalta que Temer usufruiu da sua imunidade presidencial: “Isso não impediu que ele articulasse (o esquema) em seu favor usando o poder do cargo”.
Vicente destaca que a corrupção no Brasil ainda está longe de chegar o fim e a soltura de Temer ilustra isso: “Pelos mesmos motivos, outro ex-presidente está preso e irá continuar até que se apague definitivamente sua imagem.”, fazendo referência ao ex-presidente Lula, preso em abril de 2018.
Além disso, revela que os desdobramentos da soltura de Temer são mais agravantes, dentre elas o descrédito do judiciário e manutenção da ideia de impunidade. Até mesmo, a descrença na democracia. “Para os políticos, esse fato acena para a possibilidade de se conseguir facilmente a impunidade.”, finaliza o professor.
Recentemente, no dia 9 de maio, Temer se entregou à Polícia Federal para cumprir prisão depois de seu habeas corpus ter sido revogado. Além dele, o coronel Lima se entregou. Ambos foram realizar o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), no centro de São Paulo. Até agora, Temer ficará preso na sede da Superintendência da Polícia Federal na Lapa, zona oeste de São Paulo; Lima, no presídio militar Romão Gomes, zona norte da capital paulista.
Nota: essa reportagem foi usada para a criação do Extra!, envolvendo as matérias de Jornalismo Impresso I e Planejamento Gráfico I (maio/2019) ministrada pelas professoras Gleice Bernardini e Vivianne Lindsay Cardoso, respectivamente.