Ássana também é brincadeira de criança

Júlia Paes de Arruda
4 min readMar 15, 2020

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Como a prática do ioga auxilia no desenvolvimento das crianças, contribuindo inclusive para a formação da identidade

Por Júlia Paes de Arruda e Olívia Ambrozini

H á quem diga que a prática de ioga se resume apenas em sentar-se com os braços apoiados em pernas cruzadas, prontas para respirar e soltar um “aum”. Mas é muito mais do que isso. É uma filosofia originada na Índia, há pelo menos 5 mil anos que envolve corpo e mente, aspectos espirituais, éticos e morais, os chamados yamas e nyamas.

É comum tanto adultos quanto crianças se identificarem com a ioga, de acordo com Julio Mizuno, educador físico e professor no Instituto Sankalpa de Bauru. “A ioga vem trabalhando o processo interno, então é muito fácil se identificar por conta disso, é uma viagem de autoconhecimento”, garante. Seus princípios nasceram dentro do hinduísmo, mas são conceitos universais, inerentes ao ser humano. “A ioga é o controle das flutuações da consciência”, completa Julio.

No Brasil, de acordo com dados de 2011 da Associação Brasileira de Ioga, havia mais de 500 mil adeptos com tendência de crescimento. Esse crescimento abrange tanto o público adulto quanto o público infantil.

Ilustração: Reprodução

As posturas, chamadas de ássanas, ganham nomes de animais e de outros elementos da natureza, compatíveis com os preceitos dessa filosofia. Do mesmo modo, os aspectos éticos e morais surgem como um “manual de combinados” que devem reger a vida da criança: ideias de não violência, respeito aos animais, aos amigos, falar sempre a verdade, não roubar, entre outros. Julio Mizuno acredita que “eles desenvolvam bons hábitos e boas ações a partir dessas práticas”.

Nesse período da vida, essa atividade oferece benefícios físicos, emocionais e comportamentais, como desenvolvimento da coordenação motora, diminuição do estresse, da ansiedade e aumento da autoconfiança e autoconhecimento. Além disso, também incentiva na autoestima, comunicação e no desenvolvimento da criatividade. Isso reflete, posteriormente, na interação com outros indivíduos da sociedade. A ideia de um grupo, de união é criado entre eles. Unir, aliás, é o significado da palavra ioga, em sânscrito.

A conexão construída entre as crianças instiga o espírito de coletividade e de respeito mútuo. Dessa forma, todos têm espaço para se expressar e construir juntos. Essa percepção pode ser encontrada também no trabalho de Katia Maheirie, publicado em 2012, no qual mostra o homem como um ser social por estabelecer relações e interações com outras pessoas. Em vista disso, as práticas meditativas, ao serem introduzidas desde a infância e em grupos, auxiliam na formação do caráter do futuro adulto.

Ilustração: Reprodução

Para facilitar o entendimento, utiliza-se nomes lúdicos para as posturas praticadas, tornando a atividade mais atrativa, segundo a pesquisadora e professora de ioga Maria Beatriz Campos de Lara. Ela explica que as crianças têm naturalmente um movimento ativo, mas em sala de aula isso é reprimido, por exemplo, deixando essa energia contida ao invés de aproveitá-la no processo de aprendizagem. A ioga surge, então, como uma alternativa para o desenvolvimento de uma atividade.

Um trabalho sobre o desenvolvimento da consciência corporal na ioga realizado pela estudante de pedagogia da Unesp Bauru Franciane Souza Zarantonelo mostra que a educação precisa ser completo para que a criança amplie seu repertório de manifestações e linguagens corporais. “A partir disso, ela tem ferramentas para entender a si próprio, o outro e o mundo que a cerca”, declara Franciane.

Nessa perspectiva, a ioga contribui para uma formação mais integral do ser humano, além das questões epistemológicas da escola. A pesquisadora Maria Beatriz acredita que se apresenta como um recurso eficaz para o desenvolvimento de habilidades motoras, sociais e questões intrínsecas do ser humano. “Toda atividade que você puder usar como recurso para ajudar a associar as questões do ser humano, ao invés de ser fragmentada, auxilia em um processo de educação mais efetivo.”

Ilustração: Reprodução

Nota: essa reportagem foi usada para a criação do Suplemento Contexto: Unidade & Expressão, envolvendo as matérias de Jornalismo Impresso II e Planejamento Gráfico II (novembro/2019) ministrada pelas professoras Michelle Moreira Braz e Vivianne Lindsay Cardoso, respectivamente.

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Júlia Paes de Arruda
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Written by Júlia Paes de Arruda

Vim da terra da Ilze Scamparini pra fazer jornalismo na Unesp.

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